Nazareth Fonseca Conta em Entrevista Exclusiva Suas Inspirações Personagens Queer de “Alma & Sangue”

nazaretheA autora Nazarethe Fonseca, criadora da série vampiresca ‘Alma e Sangue’, se destaca no mercado editorial brasileiro por conseguir criar uma história original, mesmo a partir de uma tema tão popular atualmente.

Sua forma de escrita, com texto repletos de sensualidade e de personagens complexos e intrigantes, sempre ambientados em um universo fantástico, tornam suas histórias das mais populares entre os fãs de histórias de vampiros do Brasil. A série inclusive teve alguns webesódios produzidos pela editora, disponíveis no site oficial, o almaesangue.com.br

Recentemente Nazarethe Fonseca foi mencionada em matéria sobre a cultura Queer, dada a diversidade em relação a orientação sexual de seus personagens. Procurada pelo Tabula Rasa, em entrevista exclusiva, falou a respeito e um pouco de seu trabalho como autora de literatura fantástica brasileira.

TABULA RASA: Você foi mencionada em duas matérias sobre a cultura Queer, por causa dos personagens dos livros Alma e Sangue, o que acha disso?

 NAZARETHE FONSECA: Fico feliz em saber que meus personagens foram aceitos pela cultura Queer e que passaram algo de positivo. Ser escritor não é só contar boas histórias. Acredito que temos o dever de difundir a queda dos preconceitos, que só arrastam a sociedade para a alienação fanática. Quando a liberdade sexual entre adultos é castrada, é sinal de uma sociedade pouco evoluída.

TABULA RASA: Em sua série de livros de vampiros ‘Alma e Sangue’, além da riqueza de detalhes relacionado a cada personagem, todos praticamente com biografias próprias, também há uma variação farta de filosofias de vida e orientações sexuais. Como chegou a cada um deles? Já os imaginava como são apresentados ao leitor ou não foi algo pré-determinado?

NAZARETHE FONSECA: Quando escrevi o primeiro livro da série em 1998, tinha pouca experiência. Queria escrever, contar a historia de Jan Kmam. E como se diz “a necessidade foi à mãe da invenção”. Peguei um caderno de escola e descrevi cada personagem detalhadamente, idade, sexo, signo, atributos físicos, gostos, inimigos… Antes de estar em meus livros eles fluem dentro do meu imaginário. Nesse momento sei tudo deles, amores, antagonistas, música preferida, pontos fracos e fortes. Quanto mais caracterizas melhor. Muitas vezes já sei até como a historia termina para eles. Colocado isso no papel já consigo trabalhar com eles dentro da história do livro.


karaekmam2TABULA RASA: Um dos seus personagens vampirescos mais queridos, depois dos protagonistas Kara e Kman, o rei dos vampiros Ariel, nasceu na antiga Roma e aos olhos do mundo moderno pode parecer machista do tipo mulherengo em várias situações. No entanto, ele não tem vergonha de expressar suas paixões. Como foi criar a orientação sexual desse vampiro romano de 2 mil anos?

NAZARETHE FONSECA: Ser imortal e vampiro são, a meu ver, dois atributos que traduzem duas palavras: liberdade total. Ariel Simon é um desafio prazeroso e constante como personagem. Ele tem o compromisso de sempre ir além. Quando me propus a contar sua historia coloquei de lado os resquícios de qualquer medo de julgamento, tabus, conceitos que pudessem castrá-lo como personagem. Ele tinha de me surpreender e conseguiu. Não havia um referencial, porque Lestat, um dos meus personagens favoritos, tem pouco incomum mesmo ambos sendo vampiros. Ariel é mais velho e prefere o anonimato, enquanto que Lestat é exibicionista.  Ele tem as qualidades que buscamos em um governante forte, corajoso, que tem senso de justiça. Uma força incorruptível e cruel. Sexualmente aberto, sem falsos pudores já possuiu homens e mulheres. Ele consegue ser reverente diante de uma mulher ou vampira. É possessivo, protetor, romântico, selvagem, possui todas as qualidades de um bom predador. Ao longo dos séculos que viveu teve muitas amantes, às vezes até duas, ou três. Ele tem apetite e pode satisfazê-lo, presente de sua natureza real. Foi criado para ser o rei dos vampiros o que significa zero de culpa, medos, censuras, limites. Amor e sexo, poder e posse para ele são palavras conhecidas. Machista? Não sei, ele só exige o que pode ser oferecido prazerosamente. Segundo ele: “A evolução humana passa pela sexualidade, se negar a aceitar a sexualidade do outro é ignorância. Esconder os desejos é mergulhar na culpa, no crime, na violência. A liberdade da escolha sexual é direito de todos, desde que não ultrapasse a vontade do outro, e não seja um ato de violência ou crime”. Da pra perceber que ele cumpre bem sua missão de rei, vampiro e imortal.

TABULA RASA: Algum fã já fez comentário sobre o diferencial de seus livros? Positivo ou negativo? O que pensa a respeito? 

NAZARETHE FONSECA: Sim, a grande maioria faz comparações e felizmente são positivas. A grande maioria fica viciada e só encontra paz ao chegar à última página e querendo mais. Mandam e-mail enormes buscando respostas filosóficas. Os comentários são interessantes, já recebi reclamações, do tipo: por que Kara não fica grávida? Por que Kara mudou? Detesto o Otávio! Coisas desse tipo.

TABULA RASA: Tem outras histórias que seguem a linha da história dos livros de ‘Alma e Sangue’? Algum novo projeto em vista? Tem a ver com a série ‘Alma e Sangue’? Segue a linha? Ou não tem nada a ver.

NAZARETHE FONSECA: Sim, estou trabalhando no segundo livro da série ‘Pandora – Controle Sobrenatural’, o primeiro volume tem previsão de lançamento para final desse ano. Finalizei agora no primeiro semestre de 2013, uma série curtinha, dois livros sobre magia, ainda não posso divulgar o titulo, mas já tem editora certa. E espero no primeiro semestre de 2014 concluir o livro solo de Ariel Simon, o Rei dos Vampiros.

TABULA RASA: Além de escrever, você gosta de ler ou ver histórias com conteúdo Queer? Indica algo aos leitores? 

NAZARETHE FONSECA: Não achei muitos para ler quando decidi ler sobre LGBT, mas posso indicar o “A Sombra no Sol”, do escritor Eric Novello, e me indicaram como um bom livro sobre o assunto, não li ainda, mas pretendo o “Como o Mundo Virou Gay”, do André Fischer.



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